quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Conto Urbano I

Joana estava felicíssima. Mal podia esperar para contar a novidade. Pegou seu celular com câmera para mandar uma mensagem para sua melhor amiga, Fernanda: "conxigui migaa!! fikei com o markinhuuu, ai q sonho, amanha ti contu na aula, bjuxx". Fernanda ficou feliz pela amiga, pois sabia que "Markinhuuu" era tudo que ela queria, já que ele era o rapaz mais rico da faculdade, usava roupas de marca, tinha tudo do bom e do melhor e seu pai era um conhecido homem de negócios. Fernanda sabia que sua amiga se interessava muito nas aparências, e porque não dizer, era até um pouco interesseira.
No dia seguinte, encontraram-se as duas. Joana dava pulos, e contava com detalhes como tinha sido o passeio no Audi 2006 de Marquinhos e o jantar no restaurante chique logo em seguida. Aquele papo de mulher, sabe? Fernanda escutava como uma boa amiga, mas no fundo sempre achava que o rapaz só estava "curtindo" e que não queria nada sério com Joana. Alguns dias se passaram, os dois continuaram saindo juntos, e para surpresa de Fernanda, sua melhor amiga estava namorando.

Foi então que as duas amigas começaram a perder um pouco de contato. Obviamente, o casal queria estar o máximo de tempo junto, e para piorar, Fernanda (que não era uma moça muito atraente) não conseguia arranjar um namorado, sentindo-se cada vez mais deslocada e sozinha. Apesar disso, sempre tentavam manter a amizade que juraram desde menininhas, quando uma batizou a outra com talco como sendo "melhor amiga para sempre". Em um final de semana, Marquinho foi viajar junto com seu pai, que estava começando a interessar o filho nos negócios da família. Era a chance de Joana e Fernanda passarem um bom tempo juntos e colocarem a fofoca em dia. Combinaram então de passear no Shopping Center e comprar algumas roupas. Tudo ia bem até que Fernanda perguntou:
- Jô, você gosta mesmo do Marquinhos?
- Como assim, Fer?
- É que às vezes acho estranho, você sendo a garota mais cobiçada da facul, ficar com alguém que, convenhamos, não é nenhum galã.
- Fer, deixa eu te falar uma coisa, isso não tem muita importância.
- E o que tem importância para você?
- Importa é que com esse cara eu não me preocupo com nada, entende? Futuro certo...
- Só porque o pai dele é muito rico??
- E porque ele é o único herdeiro também.

Fernanda não queria acreditar, mas sabia que era verdade. Dinheiro era o que importava. A gente é o que a gente tem...

Tempo passou e, certo dia, Fernanda estava felicíssima. Mal podia esperar para contar a novidade. Pegou seu celular sem câmera e mandou uma mensagem para Joana: "migaaa, fikei com u Roberto, sabe? manha ti contuuu x=D~".
Joana não sabia quem era Roberto, mas mesmo assim ficou muito feliz pela amiga, sempre achava que sua amiga não poderia ficar com alguém muito popular, mas qualquer um que a conhecesse realmente ficava encantado com sua inteligência e simpatia. "Tomara que seja um bom partido" - pensava Joana. No dia seguinte, encontraram-se as duas. Fernanda dava pulos, e contava em detalhes como tinha sido o passeio no Chevette 87 e o cineminha logo em seguida. Sua amiga estava perplexa com a "simplicidade" do rapaz. Um pé-rapado?? Joana arriscou perder a amiga, mas falou:
- Mas Fer, esse cara é um duro!
- Isso não importa muito Jô...
- E o que importa para você então?
- Ele é muito inteligente, vai se dar bem um dia.
- Você que sabe minha amiga, mas eu que não vou esperar "um dia" chegar, andando com um pé-rapado. O Marquinhos acabou de marcar um cruzeiro de luxo comigo, é nessa que eu vou, fui!

"Interesseira" - pensou Fernanda.

Os namoros então seguiram. Um de Audi, outro de Chevette. E quase sem perceber, Joana e Fernanda se desligaram uma da outra, seguindo suas vidas, carreiras e respectivos casamentos.
Por um desses acasos e encontros inesperados que surgem nas nossas vidas, as duas amigas se reencontram anos depois. Muito papo e muita fofoca, e quais são as novidades?
- Então quer dizer que você casou com o Marquinhos, o rapaz muito rico?
- Sim, casamos, mas...
- Mas o que?
- As coisas não foram muito bem, depois da morte do pai do Marquinhos, ele como único herdeiro, teve que assumir os negócios, mas definitivamente não nasceu pra isso. Conduziu mal as empresas e ainda por cima aquele cachorro fazia a maior farra em "viagens de negócios". Resumindo, acabou com a fortuna da família!
- Não acredito! E agora?
- Agora eu sou uma mulher divorciada, querida! Com um pé-rapado que eu não fico, não.
- Inacreditável...
- Pois é. E você, casou com o Roberto, aquele rapaz inteligente que tinha um chevette?
- Casei!! Estamos juntos até hoje, Roberto se deu muito bem na vida, é um renomado engenheiro e ótimo marido, estamos muito felizes juntos!
- Que bom pra você!

Conversaram mais um pouco. Conversa de mulher, sabe? O suficiente para não ter que conversar tão cedo. A vida dá muitas voltas, e no fundo todos sabiam que Fernanda havia arranjado o "cara certo", se é que isso existe.

Essa história deveria ter uma moral no final. Mas é uma moral tão manjada que eu nem me animo a escrever aqui. Espero que vocês leitores e leitoras não se iludam com as aparências, escolham a pessoa certa, e que não me considerem muito gay por dedicar tempo a isso. Agora sigam com sua rotina seja ela qual for e para fechar deixo-lhes uma pérola do carnaval de Salvador, uma marchinha que diz assim:

"Chego de viagem cansado querendo te ver/ Você me fala: Safado, não quero nada com você!/Escute com carinho o que eu te digo meu bem/ Enquanto eu estava fora não fui de ninguém/ Não fui de... não/ Não fui de ninguém/ Não fui de ninguém/ Não fui de ninguém/ Não fui de ninguém..."

3 comentários:

Anônimo disse...

sabe aquele cara inteligente e legal? ele não vai ser herdeiro, vai ter que trabalhar, batalhar, ganhar alguma coisa com o suor, vai valorizar o que tem e quem tem ao seu lado, e se fizer como os pais o ensinaram, vai ser fiel e honesto.

sabe aquele cara rico? tem 30 anos e nunca trabalhou, vive com os pais, queima um jogo de pneus por semana e bate um carro por semestre. deve ter orgulho do que conquistou... ah, vive cheio de gatinhas ao redor, mas vai morrer sozinho.

nada dura prá sempre, e tudo muda com o tempo. aposte baixo e consciente e ganhe sua fortuna aos poucos, aposte alto e displicente e perca sua vida numa jogada.

Anônimo disse...

certo mano!

Anônimo disse...

O cara fica cansado de ver histórias assim, mas enquanto as pessoas forem burras e fúteis o suficiente para continuarem fazendo isso, histórias como essa nunca serão novidade.
Tu devia escreve na Folha da Produção... eles iam vende uns 3 ou 9 jornais a mais.