Sentou-se
em frente à minha mesa no local onde trabalho uma curiosa figura. Era uma
senhora de longos cabelos grisalhos, muito mal cuidados e desleixados, tinha a face
enrugada e mais bigode que o vocalista da minha banda de rock aqui de Cerro
Largo. Ela usava uma saia comprida e tinha em suas mãos uma folha, a qual
apresentou diante de mim dizendo ser uma rifa, e pediu que eu comprasse um
número.
A primeira
coisa que eu fiz, lógico, foi ver o preço do número. Era cinco reais, caríssimo
pra uma rifa. Olhei os prêmios, que eram só porcarias. Só então resolvi
perguntar qual era a finalidade da rifa, sendo a resposta da senhora um
perfeito deal-breaker para mim:
"é pra ajudar com a nossa igreja na comunidade tal e tal". Ela falou o nome do lugar, mas
eu não lembro, pois no momento em que ela falou "igreja" eu já
ignorei todo o resto e respondi: "minha senhora, não posso comprar sua
rifa porque sou ateu e não apóio nenhum tipo de igreja". Ao falar isso, aquela mulher, que me lembrava
muito a personagem dos Simpsons da velha louca que criava centenas de gatos, arregalou
os olhos como se estivesse diante do próprio capiroto, e perguntou, incrédula:
- Como assim?
Mas tem que acreditar em alguma coisa!
- Pois eu
acredito, senhora. Acredito que deus não existe.
- Mas e
para onde tu quer ir depois que morrer?
- Eu não
quero ir a lugar nenhum, pode me enterrar em qualquer lugar mesmo, ou cremar, o
que der menos trabalho.
-
(arregalando ainda mais os olhos) Que deus tenha misericórdia da tua alma!
E enquanto
ela falava isso eu já estava indo buscar mais folhas pra impressora.
Incrível
cada tipinho que aparece. Em primeiro lugar, eu duvido fortemente que esse
dinheiro da rifa seja usado para o fim que ela alega ter. E em segundo lugar,
não sou obrigado a acreditar em uma divindade. Nem quero entrar no mérito da questão
se existe ou não existe, que é uma discussão sem fim e desnecessária por se tratar
de algo muito pessoal. É uma opinião de cada um, e simplesmente cheguei à essa conclusão
depois de vários anos e experiências que me levaram a pensar assim. O que me
incomoda é a falta de respeito das pessoas para com a crença alheia.
Infelizmente, isso sempre foi assim e sempre será. Muçulmanos que não respeitam
cristãos e vice-versa, por exemplo. Até dentro do Cristianismo existe isso,
entre católicos e evangélicos e tantos outros. Enfim, mais uma demonstração da
babaquice e pequenez humana.
Será que
um dia poderemos simplesmente viver nossas vidas, respeitando e sendo
respeitados pelos nossos semelhantes?