segunda-feira, maio 29, 2006

A Saga de Letralino Musicando

Ele sempre gostou de música. Quando nasceu, o médico que fez o parto escutava música clássica em alto volume, como costumava fazer durante os procedimentos, e ao cantar em voz de tenor as instruções às enfermeiras: "Fóóóórceps! Agora! Eu preciso de um fóóóóórceeeps!" ajudou a trazer Letralino Musicando para o mundo. "É um meniiiiino, nino, nino, ninôôô, lalaralaaa" anunciou o doutor.
Sua criação também envolveu um bocado o mundo musical. Seus pais eram músicos e compositores, que escreviam letras e elaboravam melodias exclusivas para fazê-lo dormir. Nada de "nana-nenê" ou algo do gênero, mas sim letras rebuscadas como a da canção entitulada "O Acalentar Eterno", a qual fazia os pais dormirem antes da criança, que queria bis, proferindo assim sua primeira palavra, seguida de "mais um" e então "parou por quê? Por que parou?".
Mergulhado no mundo musical, mas sem nunca ser forçado por ninguém, Letralino foi crescendo e adivinha só: quis aprender a tocar piano. Incentivado pelos seus orgulhosos projenitores, o garoto mostrou que levava jeito para a coisa e aos 12 anos já era considerado um músico profissional.

Então começou a adolescência. Ah, idade das mudanças, dos hormônios, das espinhas e das bobeiras (não necessariamente nessa mesma ordem). Letralino acaba ficando meio deslocado dos outros grupinhos, pois, apesar de ter boa aparência e ser gentil e educado, Letralino possuía uma estranha mania: falar através de letras de músicas. Era quase irritante. Se não fosse uma estrofe musical, seria uma frase famosa de algum artista. Sempre ao devolver algo que tivesse pego emprestado, ele diria "brigaduu", só para dar um exemplo. Ele nunca disse "parabéns" na data de aniversário de alguém, o aniversariante teria que escutar uma versão completa de "Parabéns Pra Você", e se fosse uma pessoa mais íntima ele já emendaria "parabéns, parabéns, saúde, felicidade, que tu colhas..." até o final. Sempre havia uma letra para cada ocasião. Em velórios sempre daria os pêsames proferindo "marvin, agora é só você, e não vai adiantar, chorar vai lhe fazer sofrer" apenas substituindo "marvin" pelo nome da pessoa que perdeu o ente querido.

Muitas vezes essa mania o causou problemas. Certa vez, foi a uma festa, tomou todas e levou um fora de sua musa inspiradora. Acabou dormindo em um banco na praça, e ao ser acordado pelo guarda, vocês já imaginam: "seu guarda eu não sou vagabundo, não sou delinqüente, sou um cara carente..." mas o oficial achou que ele estava de sacanagem e o fechou no xilindró. Ao sair de lá, desolado da vida, cantava baixinho: "o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade? Se estou na solidão pensando em você...".

Passada a adolescência, Letralino acabou conhecendo uma moça, e tornaram-se namorados. Ela achava a mania dele algo muito romântico, pois sempre ouvia coisas bonitas e frases que a faziam suspirar, enfim, foram feitos um para o outro. Ele tornou-se oficial de justiça, e passava os dias citando pessoas, penhorando coisas e cantando "Eu confisco! Eu confisco! Eu sou da lei seu trouxa, eu confisco!". Mas um dia as coisas começaram a ir mal entre o casal. Letralino não falava mais as lindas estrofes, nem a impressionava mais. Talvez fosse culpa do terrível cenário musical do momento. As declarações de amor ao estilo "você é algo assim, é tudo pra mim" transformaram-se em "vem tchutchuca linda, vem aqui com seu pretinho", "vou te dar muita pressão" e "vou te agarrar, sei que você vai gostar".

Foi o fim do casamento que durou 6 anos. Triste da vida ele cantava "ser corno ou não ser, eis a minha indagação". Afundou-se na bebida. Ninguém aguentava mais ouvir ele dizer "garçom! Aqui nessa mesa de bar..." até a noite em que por essas bebedeiras, atravessou-se na frente de um automóvel, e em um último reflexo gritou ao melhor estilo Zezé di Camargo: "PARE!" e foi arremessado a 20 metros, aos 30 anos de idade.

Em sua lápide, estava sua última mensagem: "é tão estranho, os bons morrem jovens..."

Moral da história: música ruim é prejudicial à saúde. E muito.

domingo, maio 14, 2006

Plágio!!

Evo Morales, eu acuso você de plágio! Você está copiando meu plano de carreira política e eu não ganhei nem um hidrocarboneto por isso.
Vou explicar o ocorrido: esse que vos escreve sempre sonhou em ser político desde o segundo ano do ensino médio. O processo ocorreu lentamente da noite pro dia. Quando eu contava isso para alguém, sempre ouvia como comentário coisas do tipo "tu é louco, político é tudo ladrão", "poder corrompe", "vai se sujar comigo" e também outras do tipo "consegue uns incentivo pra minha empresa", "tá ligado nos 15% né?" e por aí vai. A maioria repudia instantaneamente essa minha idéia. Não me preocupei muito com isso, mas fiquei pensando como faria para chegar ao poder máximo sem ter que apelar para meus incríveis atributos físicos (porque aí me ferraria de vez mesmo).

O negócio foi usar a tal da lógica, e comecei a pensar (sem brincadeira). Comecei a analisar algumas carreiras políticas que tiveram sucesso e comparei com algumas carreiras frustradas. Descobri uma diferença básica, que determina o futuro de um homem público no Brasil: quem entra no jogo, ganha, quem luta contra, é deixado de lado. Tá aí o Lula, maior prova disso. Quando ele lutava contra o "jogo" fazendo suas campanhas chutando o balde, sempre perdia. Quando ele finalmente entrou na dança, foi aceito e eleito. Já o Enéas, Zé Maria, entre outros, que lutam contra tudo e todos (podem até ser desonestos, honestidade é o de menos) sempre se ferram bonito até nas pesquisas de opinião.

Baseado nessa simples e funcional lei que eu descobri sozinho, construí meu plano de carreira. Seria basicamente assim: começaria como um político normal desses, que usa o pretexto de ser jovem pra ganhar alguns votos para vereador e agiria sempre de forma dinâmica-conservadora para dar a impressão de que sou uma boa promessa que não oferece riscos aos grandes donos do jogo. Após isso, começo a escalada política, e inevitavelmente, as maracutaias políticas começam a me cercar. Preparado para tudo isso, e não querendo sair fora do jogo, eu aceito e pratico tudo que é maracutaia discreta, dou vantagens, recebo "honorários", abuso do auxílio-combustível e do auxílio terno-Armani, controlo caixa 2, 3, 4 se for preciso e nego veementemente qualquer acusação dirigida a um colega ou contra mim. Perfeito, me encaixei como uma engrenagem então. O povo enxergaria em mim uma ponta de esperança de que alguma coisa mudaria, e mesmo votando sem esperar muito (já me achando um desses políticos) confirma o voto me dando a vitória. Todos os meus comparsas de partido estariam satisfeitos, olhando preços do novo iate ou mansão em Miami que vão comprar após eu assumir a presidência e o baile segue normalmente. Seria depois de tudo isso, a grande jogada política, o "golpe" seria aplicado, ganharia apoio dos generais, brigadeiros-do-ar e outros altos oficiais do exército, aeronáutica e marinha e esquadrilha da fumaça. Até o dia que então, de repente, o político comum que nem causou agitação no mercado com sua eleição muda drasticamente de face. Tal qual fez o Evo Morales! Copiador! Ele sabia que um índio nunca chegaria ao poder porque poderia prejudicar os interesses dos espanhóis que controlam seu país. Agiu como quem não quis nada, e agora age como quem quer tudo. Só que eu decretaria ditadura, dissolveria o senado, o plenário e toda aquela zona de Brasília. Estado Novo 2 - a missão.

Claro que isso só prejudicaria os corruptos. Fiquem tranquilos porque não vou meter a mão nas suas poupanças (sem malícia por favor) ou controlar e censurar a sociedade e a mídia (se bem que deixaria uns caras de olho na Globo). Mas que colocaria para fora toda a cachorrada desse país, isso eu faria. Nacionalizaria PARELHO, iria incentivar a pesquisa nuclear e desenvolvimento da bomba atômica (pra assustar os gringos, posso até mentir que tenho a bomba, como os russos fizeram na Guerra Fria), decretaria o calote internacional, seria o fim do déficit nominal no Brasil e a liberação dos recursos para o povo, que pagaria menos impostos, consequentemente. E reinaria absoluto durante uns 15 anos até reestabelecer lentamente a democracia que seria regida pelo parlamentarismo e decretaria a minha nobre linhagem Souza como a família real (gerando então uma família real de 30 milhões de nobres). Resultado de tudo isso: Brasil potência mundial.

Se você acha que foi loucura o que eu escrevi, considere que eu tinha 16 anos quando pensei nisso. Mas é melhor decorar o que eu escrevi porque seus filhos vão pedir ajuda com o tema de História e você tem que saber explicar a era "Carlos Felipe Veiga de Souza - o Grande".

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E conforme eu falei na publicação sobre o "Tempo da minha cabeça", estou aqui para registrar que o período de um mês posto sob análise passou tão rápido que eu achava que só precisaria comentar de novo sobre o assunto daqui a um bom tempo. Enganei-me.
Abraços para todos, e por favor não leiam "Chaulin - o mau" para não diminuir sua massa cerebral. Boa semana.