quinta-feira, dezembro 17, 2009

Há males que vêm pro mal



Era pra ser mais um dia normal de trabalho. Era pra ser. Começou mal, com forte chuva acompanhada de fortes ventos, e o céu enegrecido que me fazia ter a sensação de estar indo trabalhar no turno da noite. A noite anterior na faculdade havia me cansado bastante, e foi um pouco difícil de levantar da cama. “Só mais cinco minutos”, pensei eu. Cinco minutos podem fazer a diferença, tanto no sono quanto no atraso. Mas finalmente consegui tomar banho e me arrumar a tempo de sair pra esperar minha carona pro trabalho. Só não tive muito tempo de escolher o guarda-chuva apropriado pra ventania, o que me fez protagonizar a clássica cena ridícula do guarda-chuva virado do avesso no meio da rua (isso aconteceu umas oito vezes até chegar a carona).

Alguns minutos sofrendo com aquele guarda-chuva de R$1,99 na esquina e chega o meu amigo João Marcos, trazendo sua irmã e seu amigo Tiago. Beleza, entrei no carro e demorei até perceber um detalhe, uma coisa assim, quase imperceptível sob chuva torrencial: o limpador de pára-brisa não estava funcionando. Por um momento pensei que o Marquinhos estivesse fazendo aquilo de propósito, porque macho que é macho não usa essas frescuras de limpador de pára-brisa por causa de qualquer chuvinha apocalíptica. Mas, depois que ele deu uns tapas na alavanca que aciona os limpadores e proferiu alguns impropérios, eu deduzi que o negócio estava mesmo estragado. Paramos em outra esquina pra pegar o Gean e o Alexandre, e por causa disso o Marquinhos pediu pra sua irmã ir a pé dali em diante, porque o carro estaria cheio. Cinco machos. Uma chuva forte. Vidros embaçados e limpadores de pára-brisa estragados. E duas bocas malditas.

Não era exatamente uma viagem dos sonhos. A visibilidade caía para próximo de dez por cento quando se engatava a segunda marcha, e o ar abafado dentro do carro só piorava a situação. Marquinhos dirigia com todo o cuidado, intercalando tentativas de limpar o vidro com a mão direita com tentativas de fazer os limpadores funcionarem. Quando chegamos na rodovia a coisa piorou. A velocidade mais alta diminuía a visibilidade, e os caminhões passando e ultrapassando tornavam a viagem mais tensa. Marquinhos estava totalmente concentrado, e, após mais uma tentativa com a alavanca dos limpadores, ele, em um ato de visível desespero, forçava a alavanca com velocidade pra cima e pra baixo, o que obviamente não adiantou em nada, e pior: fez o Tiago dar risada. Nada poderia ter piorado mais a situação. Ao perceber que seu amigo ria-se de seu ato de desespero, Marquinhos proferiu exaltado: “Por Deus, Tiago! Se tu tiver fazendo o que eu penso que tu tá fazendo eu vou te encher de porrada!”. Eu tive que rir também.

A maneira como Marquinhos se orientava na estrada era curiosa: se escutasse o barulho dos pneus atropelando os tachões da direita, ele puxava o carro pra esquerda e vice-versa. Isso o fez dizer algo que nos fez rir: “pareço um bêbado dirigindo”. Pouco depois desse momento “rir pra não chorar” chegamos ao trecho de estrada de terra. “Sempre tem como piorar”, pensei. Pelo menos era mais fácil de distinguir o que era estrada e o que não era, por conta da terra vermelha. Ou da água vermelha, nem se enxergava direito que a estrada estava cheia de pedra solta e água corrente. Fiquei ali, no banco de trás, entre o Tiago e o Gean, este que apenas olhava para fora, como se nem estivesse dentro do carro (talvez se imaginando a bordo de um conversível importado em um dia ensolarado de folga, acompanhado por belas mulheres). Aí as bocas malditas entraram em ação. Primeiro foi o Marcos: “imagina a gente chegar lá, estacionar o carro, e os limpadores começarem a funcionar!”. Rimos. Estávamos quase chegando ao trabalho. Um minuto passou e adivinhe: os limpadores começaram a funcionar. Essa é a verdadeira definição de IRONIA. Depois de passar sufoco a viagem inteira por causa da merda dos limpadores estragados, eles resolvem funcionar poucos metros antes de chegar ao destino. Aí eu falei: “só falta agora o carro apagar!”

Por que eu falei aquilo? Passamos o portão de entrada, paramos numa subidinha para a vistoria de praxe no porta-malas, e... o carro apagou. Numa subida! Depois de passar o portão de entrada! Marquinhos tentava desesperadamente fazer o motor ligar, e nada. Então ele começou a largar o carro de ré em direção a uma descida, tentando fazer o carro pegar no tranco ainda em marcha-ré. Manobra inútil. Tivemos que sair do carro, a chuva ainda forte, e o empurramos para mais uma tentativa. Enquanto o carro descia a lomba, começamos a subir de volta em direção ao portão. Aí escutamos o ruído do motor pegando. Aleluia!! Já havíamos caminhado um bom trecho quando o Marquinhos nos alcançou. Entramos no carro para subir finalmente ao trabalho e... apagou outra vez!! Mais tentativas de pegar no tranco de ré, mais de empurrar o carro ladeira a baixo, mas dessa vez nem pegou mais. Parou no meio da estrada. Subimos novamente a pé enquanto nosso motorista empurrava o carro sob a chuva para um lugar mais seguro.

Chegamos ensopados ao escritório. Contamos a história triste aos colegas e o Vinícius foi buscar o Marquinhos. Bela maneira de começar o dia. Perdemos o café da manhã ainda por cima... que merda. Não deu pra tirar nem uma moral da história, aprender alguma coisa. Há males que vêm pro mal. E molhados.






terça-feira, dezembro 01, 2009

Motivado



Acordei motivado na manhã de terça-feira, para encarar mais um feliz dia de árduo trabalho, mas aí lembrei-me do dinheiro escondido nas excelentíssimas meias e cuecas da vida, e quase não tive vontade de sair de casa...

Sacanagem. Que vontade de ir pra Nova Zelândia.

P.S.: uma punição leve já estaria de bom tamanho, do tipo cortar os pés e as mãos do sujeito e pendurar em praça pública. Não dizem que a história é cíclica? Tá aí uma boa hora para voltarmos ao código de Hamurabi.