domingo, abril 23, 2006

Globo e você: tudo a ver... (com RJ e SP)

Até rimou o título acima se você ler com boa vontade. E é uma rima bem irritante não acham? É impossível não assistir à TV Globo sem se cansar de ouvir sobre RJ e SP, não necessariamente nesta mesma ordem. Mas durante a semana até que vai, porque eu mal assisto televisão mesmo. O problema é no final de semana. Para reles mortais como eu que não possuem uma antena do tipo SKY ou Directv (só para não ter mais canais para ficar passando sem achar nada pra assistir, sabe?) ter que sucumbir à Rede Globo é algo inevitável. A situação piora se você é um amante do futebol. Seu time gaúcho do coração vai jogar, você liga a televisão animado para ver a partida e de repente, se depara com Flamengo x algum time qualquer, ou então Corinthians x algum time qualquer. E eles fazem questão de não passar time gaúcho na Globo. Mesmo que o idolatrado Corinthians jogue contra o Grêmio, por exemplo, eles não transmitem. Deve ser para evitar o vexame nacional caso um time deles perca, como aconteceu.

Deixando o futebol de lado, vamos pensar um pouco na programação de Domingo. Isso mesmo, a primeira coisa que nos vem à cabeça é "Domingão do Faustão". Preciso comentar isso? Programa chato, ridículo, feito por um apresentador que não tem mais nada de interessante para dar ao público brasileiro, que tem como atrações principais Banda Calypso, Bruno e Marrone e grupos de pagode mela-cueca. Convenhamos, a única coisa que me atrai na hora do Faustão é quando começa as Vídeocassetadas. Não sei como eles competem com o GUGU ainda, porque a audiência é um fator diretamente ligado à proporção de carnes à mostra, ou seja, nisso o Programa Legal ganha até do Canal do Boi.

Quando eles tentam fazer algo que seja mais interessante, como por exemplo, abordar questões sociais ou científicas (nota do autor: o Fantástico conseguiu estragar o Mythbusters) tudo é voltado para quem?? Exatamente. Cariocas e paulistas.
Cansei dessa bobagem. Não que eu seja um alienado, que não se interessa pelo que acontece em outros lugares. Mas é que o único lugar que eu não vejo comentado em cadeia nacional é o meu! Daí a gente pára pra pensar um pouco, o que somos para o resto do Brasil? Acho que o Brasil não vai com a nossa cara. Nossa música não sobe pra lá, enquanto música até do Pará invade as rádios gaúchas. Somos discriminados até politicamente. As vantagens vão todas para o "eixo do mal".

Imaginem só se o núcleo da comunicação fosse gaúcho. Que maravilha seria hein? Teríamos aos domingos programas como o "Domingo TRI Legal" apresentado pelo Mano Lima. Na Globo gaúcha poderíamos ter o "Domingão do Felipão", apresentado pelo ex-técnico da seleção brasileira. Talvez até um Talk Show, do tipo "Programa do Gaúcho da Fronteira" e nos programas esportivos falar exaustivamente sobre Internacional, Juventude, XV de Novembro e um pouquinho do Grêmio também, apenas dando breves notas sobre os outros times do país. As novelas aconteceriam todas em Gramado e Canela, cenas no litoral seriam apenas em Torres, pra não fazer feio contra os litorais magníficos do resto do Brasil. Enfim, seria um mundo melhor. O Correio do Povo seria o jornal mais lido nacionalmente, e FRUKI o refrigerante mais vendido. A música gaúcha apagaria o funk e o calipso do mapa. Todo mundo seria fã do Tchê Garotos, e o Papas da Língua finalmente alcançaria seu sonho de ser conhecido fora do Rio Grande do Sul.

O fato é que somos muito diferentes. E isso é nossa nação. Um monte de gente diferente sob a égide de dois estados. Me desculpem meus amigos paulistas e cariocas mas, "Ôrra meu, isso é muita sacanagem, exxtou cerrto ou naum?"
Ainda bem que o Ronaldinho Gaúcho é gaúcho, assim eles lembram que o melhor do mundo veio do melhor do Brasil. Agora dá licença que eu vou assistir ao Altas Horas Crioulo, com Neto Fagundes.

Boa semana a todos.

terça-feira, abril 11, 2006

Tempo, tempo, tempo da minha cabeça

Einstein era incrível. Ele conseguiu fazer uma teoria que mudou a visão do mundo no que se relaciona a espaço-tempo. Sem falar na relação direta da matéria com energia. O cara era um gênio. Mas como ele mesmo afirmou na Teoria da Relatividade, tudo depende de um certo ponto de vista, do observador em relação ao objeto analisado, afinal, tudo é relativo.
Essa é uma verdade inalterável, que pode ser afirmada por provérbios populares, do tipo "O que pode ser bom pra você pode não ser bom pra mim", "pimenta no olho dos outros é refresco", "a fome é o melhor tempero", "Há males que vem pra bem", e por aí vai. Todos afirmam de alguma maneira que sob uma determinada perspectiva a mesma situação pode ter dois julgamentos ou mais.
E é assim que somos o tempo todo. Somos relativos. Quem nunca foi a alguma festa que achou ótima, ao passo que outra pessoa que foi à mesma festa a achou péssima? Mais um exemplo: se todos fôssemos responder com sinceridade a pergunta "como vai?" as respostas seriam as mais variadas, pois nem todo mundo vai "bem, obrigado".

Ultimamente tenho tido uma sensação em relação ao tempo. Anos, meses, semanas, dias, horas e minutos parecem estar voando! Venho perguntando isso a algumas pessoas no dia-a-dia, e quase sempre a resposta coincide com minha opinião. Mas por que isso? Parece até que alguns cientistas malucos andaram pesquisando sobre a rotação da Terra, para verificar se o tempo estava realmente passando mais rápido, ou seja, o planeta estaria girando mais rapidamente. Duvido muito. Acho que isso é tudo relativo. Nossa vida está em alta velocidade, a todos os momentos. Pense nesta máquina que está à sua frente. Você se comunica com seu amigo que está em outro continente em questão de segundos. Antigamente, você mandaria uma carta através de um mensageiro e se ele chegasse vivo no destino a sua mensagem seria transmitida, e muito tempo depois seria respondida. Uma viagem para outra cidade, de digamos, uns 120 km de distância; atualmente, isto leva uma hora e meia, dependendo do motor e do pé que o comanda, uma hora ou menos, talvez. Antigamente isso seria uma aventura, leve mantimentos!

Talvez todas essas coisas que tornam nossa vida mais rápida nos dêem a sensação de que o tempo voa. "Tempo é dinheiro", já dizia o capitalista. Para ele, quanto mais rápido passar o tempo, melhor, mais dinheiro. Todos queremos dinheiro.
Há coisas que fazem diminuir o ritmo da nossa sensação de tempo. Por exemplo, a ansiedade. Já encomendou alguma compra que você desejava faz algum tempo? Ela leva uma eternidade para chegar, mesmo que a "eternidade" seja uma semana. Ao contrário daquele trabalho que foi dado pelo professor da faculdade com o prazo de 2 meses, que sempre quer os trabalhos com muita urgência. Temos diferentes idéias para cada situação.

Quero saber de você. Qual é sua sensação de tempo atualmente? Pode pensar no seu dia-a-dia ou então nesse feriadão que está terminando. Pode dizer sua sensação nesse exato momento, tipo: "o tempo tá passando muito lentamente porque esse texto chato não termina nunca". Só para dar um exemplo. Caso queira desabafar algo que necessite privacidade, pode ser por e-mail. Daqui a um mês eu volto a falar sobre esse assunto e dizer o que achei desse intervalo entre estas publicações tão relativas. E vamos pra mais uma semana, pois uma coisa é certa: o tempo não pára.

domingo, abril 02, 2006

Mundos Diferentes

A primeira coisa que pensei quando avistei Porto Alegre à bordo do avião que se aproximava da cidade, depois de ter passado dez meses nos Estados Unidos, foi: "Putz, que cidade mais feia!". Foi quase sem querer. Meio espontâneo, por assim dizer, mas mesmo assim não pude deixar de me surpreender com o fato de ter acabado de achar minha cidade natal (que sempre considerei uma das capitais brasileiras mais organizadas) um lugar feio, sujo e bagunçado.
Estranho se sentir assim. É como se tivesse ido visitar a casa de um amigo muito rico, e ao voltar para a minha, achá-la suja e inferior. Coisa inédita na minha vida, tentei achar um porquê.
Indiscutivelmente, os Estados Unidos são um exemplo de organização e limpeza urbana (abordando aqui somente estes aspectos mais visuais) e por isso as cidades de lá, mesmo as menores towns de interior, são todas muito bonitas, tudo parece funcionar, todas as ruas e vias são asfaltadas e limpas. Não dei muita bola para meus pensamentos e continuei contando os segundos que me separavam de ver meus pais novamente.

Foi então que uns meses depois, fui para Porto Alegre. Passei quase um mês lá, fazendo um curso de treinamento de professores de inglês, que foi muito bacana, e fiquei esse tempo no apartamento de um ótimo amigo que me aguentou sem muitos problemas. Porém, mal tinha eu percebido que estava deparando com a realidade novamente. A primeira coisa que chamou-me a atenção foi realmente a sujeira que havia reparado do avião. Após isso, lembrei-me da existência da miséria, dos pedintes, dos moradores de rua, dos carroceiros, dos camelôs e de outras coisas que eu não via há mais de um ano. Fiquei indignado. Aí lembrei também de que já não me indignava com essas coisas no passado, costume talvez. E seguia minha vida segurando forte a mochila e escondendo o celular e a carteira da maneira que pudia. Resumindo, adaptei-me ao que chamam cruelmente lá fora de "Terceiro Mundo".

"Terceiro Mundo"? Alguém já parou pra pensar no que essa definição quer dizer? Estudamos isso no colégio, e aprendemos que existe também um "Primeiro Mundo" e continuamos a aula de Geografia sem dar muita atenção a esses termos.
O fato é que, através dessas denominações de mundos, estamos sendo planejadamente e inconscientemente SEGREGADOS. E essa também já é uma ótima lição para racistas, e outros preconceituosos de qualquer natureza. Antes de se achar superior a alguém por razões de raça ou de credo, lembre-se de uma coisa: você está na MERDA como todo mundo. Você está segregado, ridicularizado no exterior, e vivendo no PASSADO. Essa foi também uma das impressões que tive ao voltar para o Brasil, de estar voltando no tempo. Renato Russo canta em um dos versos da música "Que País É Esse":
"Terceiro mundo se for piada no exterior..."
Não poderia estar mais certo. Só pode ser piada! E das mais sem graça, daqueles que só quem conta dá risada. Se você acha que não, passe um tempo no Primeiro Mundo (ou no futuro, como gosto de dizer) e se você não ouvir nenhuma pergunta ridícula do tipo "existem carros no Brasil?" ou então "tem computadores lá?" ou até mesmo essa, que nunca esqueço: "você mora na floresta?" aí talvez você não tenha conversado com um nativo ainda.

É triste, mas é verdade. Sei que muitos dos que lerem aqui vão pensar que é besteira o que estou falando, mas o Vectra 2005 do seu pai seria um carro popular lá em cima. A televisão 34 polegadas que você tem poderia estar na casinha do cachorro de qualquer americano. Aquele celular que você pagou os olhos da cara para poder impressionar os outros é dado de graça desde que você assine o serviço por um ano. O computador de última geração que você trabalhou duro para comprar não chega aos pés de qualquer notebook no futuro. Você não tem ar condicionado central na sua casa. Você não viaja de avião com a facilidade de quem viaja de ônibus aqui no passado. Enfim, você não tem a vida boa que você mereceria! Isso só acontece no outro mundo. Aquele onde é difícil de entrar, aquele onde você sempre vai se sentir um estrangeiro. Aquele onde você vai ficar longe da família e dos seus amigos.

Pensem um pouco nisso. Como faremos para chegar no primeiro mundo? Eu gostaria muito de ver todos os meus amigos comprando seus carros próprios aos 19 anos e carregando seus laptops para lan parties e sempre com dinheiro de sobra para a cervejinha. Um estudo foi publicado por uma fundação de economia da Inglaterra, que dizia que, no ritmo em que o Brasil se desenvolve, chegaremos ao nível de país desenvolvido dentro de 432 anos. É um pouco demais do que eu esperava, não sei vocês, mas eu acho que não estarei vivo pra ver isso.
Não dei a mínima pra esse estudo desses gringos, pois eles nos segregam e querem nos manter assim por um bom tempo, nos condicionando com projeções ridículas de visão atrofiada.

Não posso fazer muito para mudar essa diferença entre "mundos" tão rapidamente. Mas uma coisa eu digo para você, caro leitor, que se você deseja viver no mundo que merece, comece a mudança por você mesmo. Não adianta querer consertar o que tá errado ao redor. Tem que consertar a si próprio. Ajuda pra caramba. Mesmo nas menores coisas, como não jogar sujeira pra fora do carro, colocar no bolso o papelzinho do chiclete se não tiver uma lixeira por perto, e não dar trela pra algum palhaço que acha legal pichar um muro ou depredar coisa pública. É a partir daí que vemos diferença, de dentro pra fora. Então comece agora mesmo, apenas continuando sua vida, porém com a idéia na cabeça de que não quer ser mais segregado, privado das coisas boas, das tecnologias, das facilidades de que todos somos merecedores. Esse é o nosso passaporte carimbado para o primeiro mundo. Eu vou, e você?