segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Trauma da Infância

Sofri um trauma da infância. Sim, "da" infância, pois fui traumatizado por um acontecimento envolvendo meu sobrinho de 3 anos. Explico-lhes: ele estava doente. Por mais cruel que pareça, se existe um deus ele permite que lindas criaturinhas inocentes fiquem doentes e sofram para sua própria diversão. Enfim, fui incumbido de levar o pobrezinho ao médico.

Foi só chegar à porta do consultório que ele já começou a ficar agitado, dizendo que não estava doente, que era o titio quem estava. Truque em vão, pois lá foi ele ver o doutor, que sequer encostou um dedo nele, mas um abaixador de língua pode ser um instrumento de tortura dos mais cruéis.

Passado o sufoco do consultório, veio a parte mais difícil, que era a injeção. Benzetacil. Só quem tomou sabe o que é. Imagine agora uma frágil criança tendo que suportar tamanha dor. É de partir o coração. Levamos o guri ao hospital, sob protestos, mas informaram-nos de que seria melhor esperar a febre dele baixar para aplicar a injeção. Voltamos para o carro, e a caminho de casa ele suspira e fala "foi por poico", pensando que havia escapado da dolorosa cura.

Em casa, ele começou a brincar despreocupadamente. Até que sua febre baixou, e resolvemos levá-lo ao hospital novamente. Ele, inocente, achava que estava indo para a pracinha brincar, e chamava-me "vem titio, vamux pa paxinha!", e eu, com o coração na mão, sem coragem de tentar explicar aonde estávamos realmente indo, simplesmente obedeci e entramos no carro.

Mais uma ironia da vida: a pracinha era de frente ao hospital. Ao perceber que não iríamos em direção aos brinquedos, mas sim ao frio e macabro hospital, meu sobrinho desatou em um choro copioso, o choro mais sofrido que já presenciei, talvez um choro comparado ao condenamento de morte, ou ao sofrimento de um gremista ao ver seu time ser rebaixado pela segunda vez, não sei. Só sei que não tive coragem de ficar segurando o guri e chamei a enfermeira. Ele implorava, berrava, dizia que não era ele quem estava doente e sim o titio, mas novamente não colou. Enquanto eu estava lá fora ouvindo todo aquele berreiro, algo inusitado aconteceu.

Sentado de frente pra mim estava um senhor magro, de roupas simples, um famoso taxista local. Ele, ouvindo a sinfonia do terror, comenta comigo:

- Rapaz, não existe nada pior do que levar o filho da gente pra tomar injeção, né?
- É...
- Sabe que toda vez que tenho que levar o meu guri, eu não consigo ficar por perto. Deixo pra mãe dele segurar, eu sofro demais.
- Só imagino...
- Na verdade, só de ouvir o choro do teu filho - dizia ele, neste momento com seus olhos inundados de lágrimas que surgiram subitamente - já me emociono e...

Ele não conseguiu completar a sentença, e saiu rapidamente do recinto, enxugando os olhos. Atônito, não sabia eu se ria ou se chorava de tudo aquilo. Finalmente, meu sobrinho sai da sala da enfermaria, ainda aos prantos e com o rosto completamente molhado de lágrimas. Tentei reconfortá-lo:
- Deu, deu, gurizão do titio, vamos pra casa tomar sorvete e assistir ao Discovery Kids?
- Tá... mas agóia o titio toma pic.

Seria merecido, meu anjinho, seria merecido.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Resoluções para 2011

Todo mundo adora fazer resoluções para o ano novo. Eu, inclusive. Uma das resoluções que fiz para 2011, que já não é mais um ano tão novo à esta altura, foi de postar aqui no blog com frequência desafiadora: uma vez por mês, para o deleite do meu único leitor, que é a minha dupla personalidade (sim, nem minha mãe quer ler isto aqui). Como já falhei o mês de janeiro, pretendo compensar no mês corrente. Outra resolução que fiz para este ano foi a de não descumprir nenhuma resolução para este ano. Sou, portanto, péssimo com essa coisa de “new year’s resolutions”. Duplo FAIL.

Acho que para o próximo ano farei uma única resolução: não fazer nenhuma resolução.

Triplo FAIL após essa piadinha escrota.