domingo, março 12, 2006

O Urutau

A pacata cidade de Vale Estreito havia recebido um visitante muito ilustre. Todos iam à praça para admirá-lo, procurá-lo entre os galhos das árvores, e as crianças brincavam de quem encontrava o estranho pássaro primeiro. Tratava-se do Urutau, uma estranha ave que se parece com um galho ao ficar paradinha entre as folhagens. Apareceu até no jornal, todos adoravam o bicho, parece até que recebeu a chave da cidade. Modificaram o hino do município, para adicionar um verso enaltecendo a "majestade Urutau", adicionaram-no na bandeira local e o slogan turístico também foi alterado, agora era "Vale Estreito, lar do Urutau". Todos abraçaram a identidade nova, só o nome da cidade não foi trocado porque causaria muita confusão no mapa, correndo o risco de o Urutau sair de viagem e não achar mais seu lar no mapa para o retorno.
Certo dia, Nina foi até a praça. Era uma menina de 11 anos, com suas amiguinhas, e como era de costume, foram espiar entre as árvores para ver se encontravam o "Uruta". Chegaram alguns meninos logo em seguida, e juntos encontraram o bicho, até que os meninos começaram a desafiar as meninas para ver se elas tinham coragem de atirar uma pedra nele. Depois de algumas provocações, Nina se irritou e juntou uma pedra para mostrar que não era boba. Tacou a pedra com força e acertou em cheio o pássaro, que se estabacou no chão da praça. Saíram todos correndo, menos Nina, que mal acreditava no que acabara de fazer. Alguns cidadãos viram o ocorrido, e correram para acodir a ave e para xingar a menina.
Nina foi para casa e seus pais já sabiam de tudo. A vergonha era demais para a família, andavam de cabeça baixa pela rua. Sua filha era uma delinqüente que não se importava com os valores da sociedade. Foi expulsa da escola, a diretora disse que não poderia aceitar alguém capaz de fazer tamanha barbaridade. Foi a julgamento. O maior que a cidade já viu. Nem sequer foi questionado o fato da ré ser menor de idade, era culpada antes mesmo de revelada a sentença. Foi isso que aconteceu. Após algum tempo de trâmites judiciais, o caso foi para a mais alta corte do país. Em cadeia nacional, a nação parou, aterrorizada com a notícia. Havia movimentos para a pena de morte, a extradição, despatriação e tudo mais que livrasse a sociedade da escória humana que representava a menina de 11 anos.

O veredicto foi o pior possível. Não era execução, nem expulsão do país, nada disso. A única maneira para fazê-la pagar era marcá-la para sempre. Todos saberiam do seu terrível passado pelo resto da vida. Nina cresceu sem poder arranjar um emprego, sem conseguir estudar, sem nenhuma relação afetiva e ignorada e rejeitada por todos. Nenhum país a acolheria, seria mal-vinda onde quer que fosse.

Não foram necessários muitos anos para que Nina morresse. A rejeição total a matara lentamente, sem compaixão nem perdão de ninguém, a moça definhou até seu fim.

Morais da estória: Ninguém vive totalmente independente (principalmente se você tem 11 anos); as consequências de um ato impensado podem ser avassaladoras; e nunca jogue uma pedra no Urutau mais próximo de você (bodocassos também estão vetados).

Ah, o Urutau nem tinha morrido, só machucou a asa esquerda. Se você quiser imaginar que a ave morreu ao ser atingida, eleve as consequências sofridas por Nina ao quadrado.

Agradecimentos a minha amiga que inspirou a publicação dessa semana, não vou dizer quem é pois algumas pessoas poderiam pensar que ela tramou contra a integridade física do Urutau, o que não é verdade, pois ela apenas queria colocá-lo numa gaiola para cobrar das pessoas que quisessem vê-lo ao invés de ficar olhando para cima como tontos na frente da igreja. Muito obrigado.

3 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Pobrezinho do Urutau! MORTE A QUALQUER UM QUE CAUSE MAL AO URUTAU!

Anônimo disse...

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