domingo, abril 02, 2006

Mundos Diferentes

A primeira coisa que pensei quando avistei Porto Alegre à bordo do avião que se aproximava da cidade, depois de ter passado dez meses nos Estados Unidos, foi: "Putz, que cidade mais feia!". Foi quase sem querer. Meio espontâneo, por assim dizer, mas mesmo assim não pude deixar de me surpreender com o fato de ter acabado de achar minha cidade natal (que sempre considerei uma das capitais brasileiras mais organizadas) um lugar feio, sujo e bagunçado.
Estranho se sentir assim. É como se tivesse ido visitar a casa de um amigo muito rico, e ao voltar para a minha, achá-la suja e inferior. Coisa inédita na minha vida, tentei achar um porquê.
Indiscutivelmente, os Estados Unidos são um exemplo de organização e limpeza urbana (abordando aqui somente estes aspectos mais visuais) e por isso as cidades de lá, mesmo as menores towns de interior, são todas muito bonitas, tudo parece funcionar, todas as ruas e vias são asfaltadas e limpas. Não dei muita bola para meus pensamentos e continuei contando os segundos que me separavam de ver meus pais novamente.

Foi então que uns meses depois, fui para Porto Alegre. Passei quase um mês lá, fazendo um curso de treinamento de professores de inglês, que foi muito bacana, e fiquei esse tempo no apartamento de um ótimo amigo que me aguentou sem muitos problemas. Porém, mal tinha eu percebido que estava deparando com a realidade novamente. A primeira coisa que chamou-me a atenção foi realmente a sujeira que havia reparado do avião. Após isso, lembrei-me da existência da miséria, dos pedintes, dos moradores de rua, dos carroceiros, dos camelôs e de outras coisas que eu não via há mais de um ano. Fiquei indignado. Aí lembrei também de que já não me indignava com essas coisas no passado, costume talvez. E seguia minha vida segurando forte a mochila e escondendo o celular e a carteira da maneira que pudia. Resumindo, adaptei-me ao que chamam cruelmente lá fora de "Terceiro Mundo".

"Terceiro Mundo"? Alguém já parou pra pensar no que essa definição quer dizer? Estudamos isso no colégio, e aprendemos que existe também um "Primeiro Mundo" e continuamos a aula de Geografia sem dar muita atenção a esses termos.
O fato é que, através dessas denominações de mundos, estamos sendo planejadamente e inconscientemente SEGREGADOS. E essa também já é uma ótima lição para racistas, e outros preconceituosos de qualquer natureza. Antes de se achar superior a alguém por razões de raça ou de credo, lembre-se de uma coisa: você está na MERDA como todo mundo. Você está segregado, ridicularizado no exterior, e vivendo no PASSADO. Essa foi também uma das impressões que tive ao voltar para o Brasil, de estar voltando no tempo. Renato Russo canta em um dos versos da música "Que País É Esse":
"Terceiro mundo se for piada no exterior..."
Não poderia estar mais certo. Só pode ser piada! E das mais sem graça, daqueles que só quem conta dá risada. Se você acha que não, passe um tempo no Primeiro Mundo (ou no futuro, como gosto de dizer) e se você não ouvir nenhuma pergunta ridícula do tipo "existem carros no Brasil?" ou então "tem computadores lá?" ou até mesmo essa, que nunca esqueço: "você mora na floresta?" aí talvez você não tenha conversado com um nativo ainda.

É triste, mas é verdade. Sei que muitos dos que lerem aqui vão pensar que é besteira o que estou falando, mas o Vectra 2005 do seu pai seria um carro popular lá em cima. A televisão 34 polegadas que você tem poderia estar na casinha do cachorro de qualquer americano. Aquele celular que você pagou os olhos da cara para poder impressionar os outros é dado de graça desde que você assine o serviço por um ano. O computador de última geração que você trabalhou duro para comprar não chega aos pés de qualquer notebook no futuro. Você não tem ar condicionado central na sua casa. Você não viaja de avião com a facilidade de quem viaja de ônibus aqui no passado. Enfim, você não tem a vida boa que você mereceria! Isso só acontece no outro mundo. Aquele onde é difícil de entrar, aquele onde você sempre vai se sentir um estrangeiro. Aquele onde você vai ficar longe da família e dos seus amigos.

Pensem um pouco nisso. Como faremos para chegar no primeiro mundo? Eu gostaria muito de ver todos os meus amigos comprando seus carros próprios aos 19 anos e carregando seus laptops para lan parties e sempre com dinheiro de sobra para a cervejinha. Um estudo foi publicado por uma fundação de economia da Inglaterra, que dizia que, no ritmo em que o Brasil se desenvolve, chegaremos ao nível de país desenvolvido dentro de 432 anos. É um pouco demais do que eu esperava, não sei vocês, mas eu acho que não estarei vivo pra ver isso.
Não dei a mínima pra esse estudo desses gringos, pois eles nos segregam e querem nos manter assim por um bom tempo, nos condicionando com projeções ridículas de visão atrofiada.

Não posso fazer muito para mudar essa diferença entre "mundos" tão rapidamente. Mas uma coisa eu digo para você, caro leitor, que se você deseja viver no mundo que merece, comece a mudança por você mesmo. Não adianta querer consertar o que tá errado ao redor. Tem que consertar a si próprio. Ajuda pra caramba. Mesmo nas menores coisas, como não jogar sujeira pra fora do carro, colocar no bolso o papelzinho do chiclete se não tiver uma lixeira por perto, e não dar trela pra algum palhaço que acha legal pichar um muro ou depredar coisa pública. É a partir daí que vemos diferença, de dentro pra fora. Então comece agora mesmo, apenas continuando sua vida, porém com a idéia na cabeça de que não quer ser mais segregado, privado das coisas boas, das tecnologias, das facilidades de que todos somos merecedores. Esse é o nosso passaporte carimbado para o primeiro mundo. Eu vou, e você?

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo, em parte. Realmente, somos um país em que a ideologia é usada para manter o controle e justificar a podridão existente nos mais altos escalões do governo. Eles manipulam a população, nos negando educação e saúde, que seriam coisas básicas em qualquer país mais desenvolvido, para então incutir na idéia destes ignorantes gerados pelo governo a noção de que "Tudo podia estar pior" ao invés de um sadio "Ainda tem muito que melhorar", desta forma jogando com uma massa de manobra que elege novamente a escória como governante. E a podridão é tão profunda, enraizada, que qualquer pessoa com caráter seria corrompida ou abandonaria a vida pública da política pois como diz o Maurício Ricardo do charges.com.br "Urubu nunca voa com pomba".

Agora, quanto aos USA serem o paraíso, isso eu discordo. Eles são imperialistas, capitalistas selvagens, estudos mostram que a família média americana deve o salário dos próximos 3 meses para cartões de crédito e bancos, gerando uma herança de dívidas constante. Eles pregam a solidez e a limpeza, e jogam seu lixo na África, corrompem países mais pobres e roubam nossa cultura, sabedoria e recursos naturais através de biopirataria justificada. Eles fazem as guerras para movimentar a economia e tem o maior índice de crimes em série, eles temem o terrorismo pois criaram o próprio, além de se entregarem a uma mídia consumista e descerebrada cheia de "talk shows" e "limited offers".

Não gosto do USA e amo o Brasil, com todos os seus defeitos, que na maioria são culpa dos mesmos há anos, e acredito que podemos melhorar, começando por nossos filhos, dando a eles educação, saúde e uma visão social crítica para que eles construam um Brasil melhor, pois me desculpem, nossa geração não vai ver isso.

Anônimo disse...

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