domingo, agosto 10, 2008

Energia que dá gosto




Um dia desses depois de um almoço, peguei uma bergamota (mexerica, tangerina...) e fui pro sol "lagartear". Que coisa bem boa. Descascar lentamente a fruta aproveitando cada segundo do calor solar que fatalmente acabará um dia devido ao fim das reservas de hidrogênio, exterminando qualquer forma de vida na Terra, mas isso não vem ao caso, onde eu estava mesmo? Ah, é, na bergamota. Foi então que comecei a escutar gritos e risos de criança vindos do quintal vizinho, e olhei em sua direção. Era um grupo de quatro crianças, com menos de 10 anos provavelmente, que jogavam bola. Jogavam bola, não futebol. Bola. Era uma bola gigante, tipo aquelas que o Quico do Chaves volta e meia aparecia quicando. É impressionante como uma bola daquelas pode ser uma fonte inesgotável de diversão. Acho que vou comprar uma bola gigante pras horas de depressão, vai ser só chutar ela na cabeça de uma criança para espantar o mau-humor.
Mas o que me impressionou realmente era como aquela gurizada não cansava nunca. Parecia que podiam passar dias correndo atrás da bola, e eu fiquei pensando se ainda lembrava da época em que me sobrava energia. E, de fato, ainda lembro. Lembro-me como andava de bicicleta um dia inteiro e ainda sobrava fôlego pra jogar um futebolzinho no final da tarde. Lembro-me que subia em árvores com agilidade e leveza, e alcançava os galhos mais altos. Podia fazer uma viagem de 500km e chegar louco de vontade de jogar bola. Bons tempos de criança...
Mas também lembro quando essa energia começou a se dissipar. Começava a sentir cansaço, coisa inédita. Viajar se tornara uma atividade cansativa. A frase "tô cansado da viagem", que antigamente eu considerava uma desculpa esfarrapada dos adultos pra não darem atenção pras crianças, começou a fazer parte do meu vocabulário. Aí os joelhos se estragaram, e agora é só morro abaixo.
O peso do sedentarismo cai sobre minhas costas. Acho que não consigo correr mais que cinco minutos sem quase ter um infarto. Nem todo o redbull do mundo pode trazer aquela energia misteriosa a qual carregam as crianças.
Acho que o Casimiro de Abreu pode explicar melhor esse saudosismo tão precoce de minha parte:

Meus oito anos

Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

h ! dias da minha infância!
Oh ! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

3 comentários:

Unknown disse...

Primeiro post! Camper!!
Em primeiro lugar, a vida na Terra acabara muito antes do fim da fusão de hidrogênio no sol.
Em segundo lugar, eu acho que deveria ter uma foto de uma lata de Nescau na imagem que ilustra o post ("Energia que da gosto").
Em terceiro lugar, bom texto, Chubs!

Anônimo disse...

euaheuahe...engraçado te imagina pequenino brincando!
ri de verdade.

Adriana Izel disse...

Poxa, eu gostei tanto do livro, achei incrível como o "vendedor de sonhos" sempre tinha uma resposta para cada pessoa. Não sei, gosto de coisas piegas mesmo. E quanto ao filme de Glass é realmente muito interessante o desenrolar da história. Gostei muito do seu blog ;)